MEMÓRIAS DE UM PRETO VELHO

Quando o som dos tambores ecoou em meus ouvidos, uma cortina se abriu à minha frente. Percebia então, que inúmeros irmãos se faziam presentes ao meu lado, aqui e acolá. Digo aqui, referindo-me ao plano dos homens e acolá, ao plano dos Espíritos. Duas dimensões distintas, mas harmoniosamente entrelaçadas, conectadas entre si, separadas apenas por uma névoa que ocultava os segredos do além aos olhos da matéria.

Apesar da minha tenra idade, uma criança que sorria para a liberdade sem saber que jamais a teria, o Pai de todos permitia-me naquele momento vislumbrar os Espíritos Benfeitores oriundos da cultura Afro, que me apresentavam as raízes de povo cheio de virtudes. No auge da nossa infância, muitas de nossas mazelas ainda se encontram adormecidas em nosso inconsciente, motivo que a brandura e a inocência pueril predominam em nosso consciente, tornando-nos maleáveis para que possamos ser moldados e crescer como uma árvore saudável que produzirá bons frutos na posteridade.

Acredito que isso tenha contribuído para que pudesse encontrar o verdadeiro caminho, aquele que nos leva ao Pai eterno.

Lembro-me como se fosse hoje, quando o Espírito daquela humilde velhinha se apresentou para mim como a vó Genoveva, a matriarca das senzalas. Uma criatura simples e muito adorável com quem apreendi os maiores valores de um ser, aqueles que carregamos dentro de nossos corações por toda eternidade: o amor puro e verdadeiro, e o respeito à vida.

Cresci, vivi e envelheci dentro das senzalas, a única experiência de liberdade era uma vaga lembrança da encarnação passada no continente europeu, quando na condição de um médico de pele branca, tive a oportunidade de ajudar pessoas, todavia a vaidade me consumira por completo, impedindo que a caridade se tornasse o objetivo principal daquela existência.

Nas senzalas aprendi que somente a dor pode tratar as chagas do passado, pois cada alma que deixei de socorrer na vida pretérita, uma ferida se abria em meu corpo na existência subsequente.

Aprendi também que só o amor pode curar a chagas do presente, pois cada irmão que auxiliava no seio das senzalas, uma ferida em meu corpo cicatrizava.

A dor me mostrou o caminho, mas foi o amor que me levou ao Pai.

Durante uma prosa, quando o coronel da casa grande me ofereceu a liberdade, disse-lhe apenas que não me sentia preso, pois a caridade havia libertado o meu coração e Jesus, logo libertaria a minha alma do cárcere bendito.

O coronel poderia ter sido o meu pior algoz, mas exemplificando o amor, consegui com que ele se tornasse um amigo ao final da minha existência terrena. Em seu coração de pedra, um grão de esperança germinara e as portas das senzalas eram abertas para sempre. Inúmeros irmãos ganhavam a tão sonhada liberdade.

Eu preferi continuar nas senzalas até os últimos segundos da minha experiência mundana, pois alguns irmãos debilitados ao extremo não tinham condições de partir e necessitavam de mim para sobrevier naquele local, que por tantos anos nos serviu de morada.

Quando os meus olhos da matéria finalmente se cerraram, minha visão se tornou mais clara, pois os meus verdadeiros olhos se abriam para a liberdade espiritual e meu Espírito ascendia ante a intensa felicidade do compromisso realizado.

Preto Velho fui, Preto Velho sou, pois as maiores virtudes de um ser não se encontram em sua aparência, mas sim, dentro de seu coração.

Pai Jacó (Espírito) – Yssao (médium)

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